Pesquisa brasileira demonstra que extrato de cannabis alivia a dor e melhora a qualidade de vida de pacientes com fibromialgia
A fibromialgia é um tipo de patologia caracterizada pela presença da chamada “dor crônica”.
Suas causas são pouco conhecidas e seus sintomas geralmente ultrapassam a presença da dor generalizada. Costumeiramente o paciente também sente cansaço, insônia, ansiedade e depressão.
Consequentemente, esta patologia pode ter considerável impacto físico e psicológico na vida dos pacientes, impedindo o trabalho e outras atividades cotidianas.
A fibromialgia afeta predominantemente as mulheres, uma vez que, atinge cerca de 9 em cada 10 pacientes e a medicina tradicional não possui um tratamento específico para tratá-la.
O procedimento mais utilizado costuma ser a associação de antidepressivos que tratam da parte emocional do paciente com os analgésicos que tratam da dor propriamente dita.
Recentemente foi publicado um estudo brasileiro liderado pela médica Carolina Chaves e realizado com pacientes de um Centro de Saúde comunitário em Florianópolis. Os dados foram coletados de setembro a novembro de 2019.
Denominado “Ingestão de óleo de cannabis rico em THC em pessoas com fibromialgia: um ensaio clínico randomizado, duplo-cego e controlado por placebo”, possui potencial para ser uma esperança para os paciente desta patologia.
Isto porque, referida pesquisa científica foi realizada dentro do maior rigor possível e veio para confirmar o que já é de conhecimento do meio médico: a cannabis pode ser usada com sucesso no tratamento da dor e de aspectos psicológicos dos pacientes. Vejamos.
Primeiramente, estudos científicos sobre os efeitos terapêuticos da planta foram produzidos nos últimos 50 anos e, em 2017, a Academia Nacional de Ciência, Engenharia e Medicina concluiu, após análises de artigos, que o uso de cannabis para o tratamento da dor é apoiado por ensaios clínicos bem controlados, com evidências substanciais de seus efeitos no tratamento da dor crônica em adultos.
Voltando ao estudo brasileiro, os pesquisadores informaram que o extrato utilizado na pesquisa continha os seguintes fitocanabinóides: Tetrahidrocanabinol (THC), Canabidiol (CBD), Canabigerol (CBG), Tetrahidrocanabivarina (THCV), Canabinol (CBN) e Canabicromeno (CBC).
Além destes fitocanabinóides o concentrado possuía, como terpenos principais, o Mirceno, Cariofileno e Pineno .
Na Tabela 1. publicada no referido estudo constata-se que, após a intervenção de 8 semanas de tratamento, houve uma melhora substancial no escore específico relativo à fibromialgia (FIQ), que vai de 0 a 100.
No grupo que foi tratado com cannabis houve a redução deste escore de 75,50 para 30,50, enquanto que no grupo que recebeu placebo a redução foi de apenas de 70,22 para 61,22.
Assim sendo, houve reduções significativas na pontuação total do FIQ e, mais especificamente, nos itens “sentir-se bem”, “capacidade para o trabalho” e “dor”.
Logo, podemos constatar que o extrato de cannabis atuou de forma positiva tanto no aspecto físico (dor), quanto no psicológico (“sentir-se bem” e “capacidade para o trabalho”) dos voluntários.
O estudo apresentou em “Conclusões” as seguintes informações:
“Até onde sabemos, este é o primeiro ensaio clínico randomizado para demonstrar os benefícios do óleo de cannabis – um extrato de planta inteira rico em THC – nos sintomas e na qualidade de vida de pessoas com fibromialgia. Concluímos que os fitocanabinóides podem ser uma terapia de baixo custo e bem tolerada para o alívio dos sintomas e melhora da qualidade de vida desses pacientes, e sugerimos que essa terapia possa ser incluída como uma opção fitoterápica para o tratamento dessa condição no Brasil. sistema público de saúde.
Estudos maiores e mais longos, acessando extratos integrais de cannabis com concentrações variadas entre fitocanabinóides e incluindo um período de washout, devem ser feitos para aprimorar nosso conhecimento sobre a ação da cannabis na fibromialgia”.
Concluindo, salientamos que essa não é a primeira pesquisa a estudar o efeito da utilização da cannabis no tratamento da fibromialgia.
Porém, ficou evidenciado que foi aquela conduzida com o maior rigor técnico científico que se exige, além de produzir resultados altamente promissores.