Uso do canabidiol no tratamento da epilepsia: Como funciona e potencial terapêutico
O canabidiol tem se mostrado uma ferramenta com potencial terapêutico no tratamento da epilepsia.
A epilepsia é uma doença cerebral crônica que possui diversas causas e é caracterizada pela recorrência de crises epilépticas não provocadas.
Trata-se de um dos distúrbios neurológicos crônicos mais comuns que afetam a população mundial. Segundo dados da Liga Brasileira de Epilepsia, a doença atinge de 2 a 3% da população.
A identificação precoce da doença e o diagnóstico feito de maneira correta permitem que o tratamento seja iniciado adequadamente e que o paciente possa ter qualidade de vida.
Acontece que existem situações em que as crises não são controladas pelos medicamentos tradicionais. Segundo dados fornecidos por autoridades médicas:
“Com o tratamento clínico (com medicamentos antiepilépticos), cerca de dois terços dos pacientes têm suas crises controladas. Um número significativo – cerca de um terço – porém, continua tendo crises a despeito do tratamento clínico”.
Esses são os casos chamados de refratários pela medicina.
Como o canabidiol pode auxiliar no tratamento da epilepsia
Neste contexto, a Cannabis vem se apresentando como importante ferramenta no controle e tratamento das crises convulsivas da epilepsia.
Estudos com o uso de Canabidiol (CBD) para controle de crises convulsivas têm apresentado potencial terapêutico devido à sua participação em diversos processos fisiológicos no corpo humano, por meio da neuromodulação do sistema endocanabinoide.
Da mesma forma, pesquisas científicas vêm demonstrando que o CBD também funciona muito bem para o tratamento da chamada “epilepsia refratária”, isto é, aquela resistente aos medicamentos tradicionais.
Primeiro estudo do mundo sobre uso da cannabis no tratamento da epilepsia
O primeiro estudo clínico no mundo que abordou o uso clínico da Cannabis para controle da epilepsia foi realizado no Brasil, ainda na década de 80. A pesquisa foi realizada pela Unifesp, sob orientação do Prof. Elisaldo Carlini.
Resultados bastante promissores foram apresentados:
“Todos os pacientes e voluntários toleraram muito bem o CBD e nenhum sinal de toxicidade ou efeitos colaterais graves foram detectados no exame […] indivíduos permaneceram quase livres de crises convulsivas ao longo do experimento”
Estudos sobre o Canabidiol para controle de epilepsia refratária
Pesquisas científicas destacam o potencial terapêutico do Canabidiol nos tratamentos de epilepsia com eficácia e segurança, trazendo para o paciente e seus familiares qualidade de vida e tranquilidade para os atos cotidianos.
Em 2018, a Agência Federal do Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos Estados Unidos (FDA) aprovou o uso de um produto rico em CBD para duas formas graves de epilepsia em crianças (Síndromes de Lennox-Gastaut e Dravet).
Um estudo realizado na Espanha avaliou a utilização do Canabidiol para o tratamento da síndrome de Lennox-Gastaut e síndrome de Dravet.
O estudo traz como objetivo “estabelecer recomendações sobre o uso de CBD altamente purificado derivado de plantas sobre as quais especialistas espanhóis chegaram a um consenso para o tratamento da epilepsia em pacientes com SD e LGS com base em sua experiência clínica e evidências científicas.”
Este outro artigo faz menção a dois estudos randomizados, duplo-cegos e controlados por placebo em que se constatou que o CBD reduz as convulsões associadas à síndrome de Dravet (SD):
“[…] mostramos que o tratamento de longo prazo com CBD teve um perfil de segurança aceitável e levou a reduções sustentadas e clinicamente significativas na frequência de convulsões em pacientes com SD resistente ao tratamento”.
Neste estudo realizado no Departamento de Pediatria do Filadelfia Epilepsy Hospital, Dinamarca, os resultados apresentados foram:
“Em 51 pacientes com registro de frequência de crises, 31,4% tiveram redução ≥ 50% das crises em três meses, 31,1% em seis meses, 28,1% em 12 meses e 20,0% em 24 meses. Nos mesmos períodos, algum grau de redução das crises foi: 68,6%, 57,8%, 46,9% e 20,0%, respectivamente. A redução das convulsões foi maior com a co-medicação de clobazam. Em pacientes com Dravet e Lennox-Gastaut, 70,0% tiveram redução ≥ 50% das crises em três meses em comparação com 22,0% em pacientes com outras epilepsias, onde algum grau de redução das crises em três meses foi de 80,0% e 65,9%, respectivamente”.
Por sua vez, este estudo realizado no Massachusetts General Hospital comprovou que o CBD possui eficácia de longo prazo no tratamento da epilepsia refratária:
“Este estudo demonstra que o CBD não perde sua eficácia no controle de convulsões ao longo de um período de tratamento de até 60 meses. Juntamente com outros resultados sobre a eficácia e tolerabilidade do CBD no tratamento de epilepsias refratárias, nossos resultados fornecem evidências de que o CBD é um AED eficaz, seguro e bem tolerado para uso em longo prazo”.