Medicamentos canabinóides e suas aplicações
Pesquisadores e cientistas dos principais centros estão estudando exaustivamente as aplicações terapêuticas dos produtos extraídos da cannabis a fim de conhecer melhor seus efeitos.
As descobertas vêm se expandindo a cada ano em virtude de estudos científicos envolvendo os principais elementos da planta, quais sejam: os fitocanabinóides e os terpenos.
Os fitocanabinóides ou simplesmente canabinóides são compostos químicos produzidos pela planta.
Em outras palavras, são metabólitos secundários que funcionam com a finalidade de manter a planta saudável. Acontece que a ciência também descobriu o seu potencial terapêutico nos humanos.
Isto ocorre porque os fitocanabinóides ativam os receptores canabinóides existentes no organismo humano, permitindo a interação dessas substâncias com o metabolismo celular.
Desta forma, os canabinóides interagem com o sistema endocanabinóide e atuam na regulação e equilíbrio de uma série de processos fisiológicos de nosso corpo, isto é, na homeostase.
Já se tem conhecimento que a cannabis possui mais de 100 canabinóides diferentes. A maioria deles possui baixas concentrações, enquanto que outros são encontrados em concentrações maiores.
O Tetrahidrocanabinol (THC) e o Canabidiol (CBD) são os canabinóides predominantes na planta e também os mais estudados e pesquisados.
No entanto, há outros menos abundantes que também demonstraram efeitos promissores nas pesquisas que vêm sendo realizadas.
São eles: Canabigerol (CBG), Canabinol (CBN), Canabicromeno (CBC), Tetrahidrocanabivarina (THCV), Canabidivarina (CBDV), dentre outros.
HISTÓRICO
As descobertas farmacológicas envolvendo a cannabis começaram na década de 1960, quando o professor Raphael Mechoulam e seus colegas isolaram e sintetizaram o CBD, o THC e outros fitocanabinóides.
Inicialmente, o THC foi o canabinóide que atraiu maior atenção. Porém, gradativamente, o CBD e os outros canabinóides também foram se tornando objeto de pesquisas.
Atualmente a avaliação da farmacologia da cannabis está ainda mais inclusiva.
Pesquisas adicionais sobre as contribuições farmacológicas dos terpenos vêm crescendo na mesma velocidade daquelas envolvendo os canabinóides.
As investigações revelam que esses compostos aromáticos contribuem com papéis moduladores e terapêuticos no ambiente da cannabis.
As relações sinérgicas dos terpenos com os canabinóides estão sendo comprovadas e incluem muitos papéis complementares para aumentar a eficácia terapêutica no tratamento da dor, distúrbios psiquiátricos, câncer e várias outras áreas.
FITOCANABINÓIDES
Voltando aos fitocanabinóides, analisaremos os mais conhecidos e estudados.
Começando pelo Canabidiol (CBD), este é um dos canabinóides com maior concentração na cannabis.
O CBD vem se destacando por conta de sua versatilidade para tratar diferentes patologias. Além disso, pesquisas científicas e estudos clínicos vêm afirmando a sua segurança e eficácia.
O seu uso terapêutico mais difundido é para tratar de epilepsia infantil, especialmente em situações em que os medicamentos convencionais não desempenham seu papel.
Neste artigo publicado recentemente pela PubMed esta situação fica claramente demonstrada. Vejamos.
“Nos últimos anos, tem havido uma apreciação crescente por parte das autoridades regulatórias de que os medicamentos à base de cannabis podem desempenhar um papel útil na terapia de doenças. Embora muitas vezes conflagrado pelos proponentes do uso recreativo, o reescalonamento legislativo de compostos derivados da cannabis, como o canabidiol (CBD), tem sido associado ao aumento constante na busca do uso de cannabis medicinal. Um fator chave neste interesse foi a demonstração científica da eficácia e segurança do CBD em ensaios clínicos randomizados e controlados por placebo em crianças e adultos jovens com epilepsias de difícil tratamento, o que encorajou um número crescente de ensaios em humanos de CBD para outros indicações e em outras populações. A introdução do CBD como o medicamento Epidiolex nos Estados Unidos (em 2018) e como Epidyolex na União Europeia (em 2019) como o primeiro medicamento derivado da cannabis para o tratamento de convulsões foi sustentada por pesquisas pré-clínicas realizadas na Universidade de Reading . Este trabalho foi premiado com o Prêmio Sir James Black da British Pharmacological Society por Contribuições para a descoberta de medicamentos em 2019 e é discutido no seguinte artigo de revisão”.
Além dessa situação, uma série de outras possibilidades de uso terapêutico desse fitocanabinóide, utilizado isoladamente ou em conjunto com outros, vem recebendo crescente atenção dos cientistas.
É o caso de sua utilização para o tratamento de dor crônica, ansiedade, estresse pós-traumático, autismo, Alzheimer, esquizofrenia, entre outras patologias que os medicamentos tradicionais oferecem ajuda limitada.
Outro fator de destaque é a atuação de pesquisadores brasileiros neste setor.
Conforme demonstrado neste texto, o país é destaque na produção científica sobre cannabis e CBD.
Outro fitocanabinóide encontrado em abundância e amplamente estudado é o THC. Em virtude do seu efeito psicoativo, este fitocanabinóide foi demonizado por muito tempo.
Acontece que a ciência já comprovou que o THC tem ampla possibilidade de utilização terapêutica e, quando ministrado da forma correta, não provoca os efeitos indesejados. Vejamos.
Recentemente o Portal da Universidade Federal da Integração Latino-Americana – UNILA publicou um texto sobre um estudo que está sendo realizado dentro do Laboratório de Neurofarmacologia Clínica.
Referido estudo aponta para o potencial dos canabinóides no tratamento de pacientes com patologias neurodegenerativas, como Parkinson e Alzheimer.
A pesquisa busca evidências científicas mais aprofundadas sobre a hipótese de como os dois canabinóides (THC/CBD) podem contribuir na melhora das condições de saúde de pessoas com Alzheimer
O estudo será feito de acordo com metodologias que lhe garantem a condição de “padrão ouro”, isto é, através de ensaio clínico randomizado, duplo-cego e controlado por placebo.
Segundo o coordenador do estudo Francisney Nascimento, toda pesquisa precisa ter essas características para obter evidências robustas de eficácia e ser recomendada na prática clínica.
“O nosso estudo seguirá esses parâmetros para, se der resultado positivo, ser um resultado que possa de fato começar a direcionar outros estudos ainda maiores, pautar novos tratamentos e influenciar protocolos futuros”
Durante a pesquisa serão feitas avaliações clínicas para avaliar a memória, cognição e aprendizado dos voluntários. Também serão feitas avaliações bioquímicas para avaliar algumas proteínas, enzimas e medidores inflamatórios que têm relação com o Alzheimer.
“Vamos avaliar durante um ano tanto se a Cannabis pode recuperar a cognição do paciente, déficit de memória, como também se a Cannabis é capaz de reduzir a progressão da doença”.
Serão ministradas doses muito baixas de THC, isto é, de 1 a 3 mg. Esta quantidade é 60 vezes menor do que aquela que provoca efeito psicoativo.
O Laboratório de Neurofarmacologia Clínica da Universidade tomou esta iniciativa motivado pelo resultado de outro estudo realizado com um paciente de 75 anos que tem Alzheimer.
Referido estudo verificou que, com uma dose baixa de fitocanabinóides, o déficit de memória do paciente foi revertido a ponto de apresentar uma performance de memória e cognição semelhante à de uma pessoa de sua idade, sem a doença.
A nova pesquisa amplia o número de pacientes e o projeto terá entre 20 e 30 voluntários, com estágios leve e moderado da doença.
Além disso, irá utilizar extrato completo da cannabis e trabalhará com doses e avaliações cognitivas e bioquímicas por um período mais longo, de um ano.
Em outra pesquisa publicada pela Frontiers in Neurology e conduzida por cientistas do Departamento de Ciências Fisiológicas do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade de Brasília e médicos da Associação Brasileira de Pacientes de Cannabis Medicina, se comprovou a eficácia no tratamento dos sintomas de Transtorno do Espectro do Autismo.
O estudo observacional foi feito com uma coorte de dezoito pacientes autistas em tratamento com o uso compassivo de extrato de cannabis com uma proporção de CBD para THC de 75/1.
Assim sendo, foi administrado por via oral em cápsulas contendo 25 ou 50 mg de CBD e 0,34 ou 0,68 mg de THC, respectivamente.
Devido a efeitos adversos, três pacientes deixaram a pesquisa antes de um mês. Entre os quinze pacientes que continuaram o tratamento apenas um não apresentou melhora dos sintomas autistas.
Passados entre seis e nove meses de tratamento, a maioria dos pacientes (epilépticos e não epilépticos) mostraram algum nível de melhora em mais de uma das oito categorias de sintomas avaliadas, quais sejam: Transtorno de Déficit de Atenção / Hiperatividade; Transtornos Comportamentais; Déficits motores; Déficits de Autonomia; Déficits de Comunicação e Interação Social; Déficits cognitivos; Distúrbios e convulsões do sono.
“No geral, a maioria dos resultados positivos foi relatada para os 15 pacientes que aderiram ao tratamento CE padronizado (um caso por 6 meses e 14 casos por 9 meses), especialmente em relação a melhorias nos distúrbios do sono, convulsões e crises comportamentais. Além disso, foram relatados sinais de melhora para o desenvolvimento motor, comunicação e interação social e desempenho cognitivo (Tabela 2) Destacamos que 14 destes 15 pacientes (93%) apresentaram melhora igual ou superior a 30% em pelo menos uma categoria de sintomas. A maioria dos pacientes que aderiram ao tratamento teve melhora em mais de uma categoria de sintomas: sete pacientes (47%) tiveram melhora igual ou superior a 30% em quatro ou mais categorias de sintomas; dois pacientes (13%) apresentaram melhora igual ou superior a 30% em duas categorias de sintomas e cinco pacientes (33%) apresentaram melhora igual ou superior a 30% em uma categoria de sintomas. Apenas um paciente, referido como Caso 9, que estava recebendo vários medicamentos neuropsiquiátricos ao longo do estudo, apresentou manutenção geral ou piora dos sintomas”.
TERPENOS
Os terpenos fazem parte de uma diversificada classe de componentes naturais presentes nos vegetais.
São conhecidos por conferir cor, sabor e aroma às plantas. Também atraem insetos polinizadores, afastam predadores, retardam a maturação das plantas e regulam o seu metabolismo.
No caso da cannabis, estima-se que existam mais de 200 terpenos. Além das características apresentadas, os terpenos atuam modulando os efeitos dos canabinóides, isto é, aumentam a interação entre estes.
Esta interação entre terpenos, canabinóides e outros elementos da planta é conhecida como “efeito entourage”.
Isto significa a completa relação de todos os elementos químicos da planta, causando uma sinergia entre eles e produzindo seus efeitos terapêuticos.
Além disso, pesquisas vêm comprovando que os terpenos possuem efeitos terapêuticos próprios.
Essas propriedades apresentam as seguintes características: antiinflamatória, antioxidante, analgésica, anticonvulsivante, antidepressiva, ansiolítica, antitumorais, neuroprotetoras, antialérgicas, antibióticas, dentre outras.
Os terpenos mais conhecidos e seus respectivos efeitos terapêuticos são:
- Mirceno – analgésico, antiinflamatório e antibiótico
- Limoneno – bactericida, fungicida e antitumoral
- Cariofileno – analgésico e redutor da pressão sanguínea
- Pineno – expectorante, antisséptico, aumento de foco e energético
- Linalol – calmante, ansiolítico, sedativo e anticancerígeno
- Humuleno – antitumoral, bactericida e antiinflamatório
Conforme dito no início deste texto, pesquisas e estudos científicos estão sendo iniciados, desenvolvidos e concluídos pelos principais centros científicos espalhados pelo mundo.
A equipe Remederi está atenta às novidades e manterá esta página virtual atualizada com as principais notícias envolvendo toda a produção científica relativa à cannabis, seus componentes e promissores resultados.
Aproveitamos para desejar um feliz e próspero ano de 2021 para todos os nossos leitores.
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