Expansão da cannabis legal no mundo: Mercados e setores influenciados
À medida que a cannabis legal vem se tornando conhecida, uma tendência que observamos é que ela está se expandindo para diversos setores, desde produtos de beleza com infusão de óleo de canabidiol (CBD), casas feitas com tijolos e cimento de fibra de cânhamo, produtos alimentícios, biocombustível, papel, dentre outros.
Diferentemente do que ocorria num passado não muito distante, um produto ilegal, discriminado e que gerava lucro apenas para o submundo do crime, a cannabis se tornou uma indústria global em rápido crescimento e que influencia em vários ramos de atividade.
Neste artigo publicado no Businesswire, os analistas projetam que o mercado global de cannabis chegará a US$ 42,7 bilhões em 2024, de acordo com relatório divulgado pela Arcview Market Research (“Arcview Group”) e pela BDS Analytics .
Notem, a progressão levando em consideração que os gastos com cannabis legal em todo o mundo atingiram US$ 14,9 bilhões em 2019, e US$ 10,2 bilhões em 2018.
“O mercado legal de cannabis cresceu 46% em 2019, apesar dos desafios causados pela regulamentação excessiva e pela sobrecarga nos dois maiores mercados; Califórnia e Canadá “, disse Troy Dayton, fundador e diretor de estratégia do The Arcview Group.
“Esse é um verdadeiro testemunho da popularidade da cannabis entre os consumidores e do impacto contínuo de novos mercados que estão entrando e amadurecendo. As possibilidades são ilimitadas à medida que o progresso político abre mais mercados em todo o mundo, e os mercados em dificuldades resolvem sua estrutura regulatória. ”
“Ao afrouxar as restrições de produtos e adotar uma abordagem de mercado mais livre para licenciamento, a Flórida, por exemplo, começou a perceber o potencial das vendas de cannabis medicinal em um estado populoso“, disse Tom Adams, diretor e analista principal da BDS Analytics.
“No entanto, o que vemos em Oklahoma é um leve toque regulatório e baixas taxas de impostos, que permitem aos cidadãos acessar os benefícios de saúde da cannabis, superar o mercado ilícito e criar um fluxo saudável de receita tributária diretamente ao governo do estado .”
Quais são os principais setores que a cannabis legal está movimentando
Cannabis na medicina
A cannabis medicinal está revolucionando a maneira como várias doenças estão sendo tratadas em todo o mundo.
Os pesquisadores, cientistas e médicos estão estudando cada vez mais as aplicações que as diversas substâncias encontradas na cannabis possuem para serem utilizadas no tratamento de incontáveis patologias.
Cientistas descobriram que a cannabis possui 540 substâncias químicas, sendo que mais de 100 são os conhecidos fitocanabinóides.
Atualmente os fitocanabinóides mais pesquisados, testados e estudados são o tetra-hidrocanabinol (THC), o canabidiol (CBD) e o canabinol (CBN). Porém, inúmeras pesquisas estão sendo realizadas para descobrir os benefícios dos demais componentes da planta, tais como os terpenos e flavonóides.
O canabidiol (CBD), em particular, chamou a atenção de vários pesquisadores porque este fitocanabinóide possui a vantagem de não deixar o seu usuário entorpecido.
Assim sendo, muitos cientistas estão estudando seu impacto na epilepsia, distúrbios neuropsiquiátricos, câncer, ansiedade, depressão e outras condições.
Recentemente, a Food and Drug Administration (FDA) aprovou o uso de medicamento contendo CBD para tratar dois tipos de epilepsia.
A cannabis medicinal legalizada atualmente está disponível em 33 estados dos EUA.
Neste artigo publicado pelo National Center for Complementary and Integrative Health (NCCIH), demonstra que a cannabis medicinal pode ser útil no tratamento de certas formas raras de epilepsia, náusea e vômito associados à quimioterapia para câncer e perda de apetite e perda de peso associadas ao HIV/AIDS.
Além disso, algumas evidências sugerem benefícios para tratamento de dor crônica e sintomas de esclerose múltipla.
Desta forma, podemos elencar uma série de aplicações para a cannabis, tais como:
- Dor
- Ansiedade
- Epilepsia
- Glaucoma
- Sintomas de HIV / AIDS
- Doença inflamatória intestinal
- Síndrome do intestino irritável
- Distúrbios do movimento devido à síndrome de Tourette
- Esclerose múltipla
- Náuseas e vômitos relacionados à quimioterapia para câncer
- Transtorno de Estresse Pós-Traumático (TEPT)
- Problemas do sono
Cannabis no setor farmacêutico
Com o considerável aumento de prescrições de cannabis medicinal por médicos, a indústria farmacêutica está sendo diretamente impactada.
A cannabis está cada vez mais tendo aplicações no tratamento da dor, ansiedade, distúrbios do sono e outras condições médicas, como problemas fibróticos e dor neuropática.
Como resultado, muitas empresas da indústria farmacêutica estão tentando incorporar a cannabis em suas estratégias, pois estes produtos tendem a substituir, em algumas situações, os medicamentos tradicionais.
A GW Pharmaceutical, líder global no desenvolvimento de medicamentos à base de fitocanabinóides, fez história quando recebeu a aprovação da Agência Federal do Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos Estados Unidos – Food and Drug Administration (FDA) de seu medicamento de prescrição à base de cannabis, o Epidiolex.
A gigante farmacêutica também espera obter a aprovação da FDA de outro medicamento conhecido como Sativex, que pode tratar a espasticidade relacionada à esclerose múltipla.
A Tilray, empresa canadense de produtos farmacêuticos e cannabis, constituída nos Estados Unidos e com operações na Austrália e Nova Zelândia, Alemanha, Portugal, e América Latina anunciou uma parceria com a Sandoz Canadá (um braço da Norvaris) para desenvolvimento de medicamentos a base de fitocanabinóides.
No Brasil, a ANVISA publicou no final de 2019 a RDC 327/2019 que “dispõe sobre os procedimentos para a concessão da Autorização Sanitária para a fabricação e a importação, bem como estabelece requisitos para a comercialização, prescrição, a dispensação, o monitoramento e a fiscalização de produtos de Cannabis para fins medicinais, e dá outras providências”
Assim sendo, recentemente o primeiro produto derivado de cannabis chegou até as farmácias do Brasil.
Cannabis e cosmético/bem-estar
Um dos maiores segmentos de mercado futuro de produtos de cannabis que contêm fitocanabinóides, terpenos e demais componentes químicos da planta serão os tópicos – incluindo cremes, espumas, géis, loções, pomadas e bálsamos.
Os tópicos são absorvidos através da camada externa da pele chamada epiderme (que cobre as camadas internas conhecidas como derme e hipoderme).
As aplicações de cannabis no setor de cosméticos, bem-estar e beleza estão crescendo rapidamente. O óleo de canabidiol (CBD), em particular, está atraindo muita atenção.
Isso porque os óleos e cremes com este fitocanabinóide não tem efeito entorpecente e os defensores afirmam que ele pode oferecer alívio da dor, ansiedade e depressão. Também possui propriedades anti-inflamatórias e anti-acne.
Assim sendo, a cannabis está sendo incorporada pela indústria do cosmético, beleza e maquiagem, incluindo rímel, cremes para o rosto, protetores labiais e bombas de banho.
Lord Jones, uma das primeira empresa a atuarem no ramo, faz gomas de CBD e uma loção corporal para “dores musculares, dores nas articulações e problemas de pele”.
A gigante do varejo de beleza e cosméticos Sephora passou a comercializar uma grande variedade de produtos CBD em suas lojas, sendo classificados como “itens de beleza”.
Cannabis no setor agrícola
Este setor está sendo diretamente influenciado pela cannabis legal, simplesmente porque é através dele que a matéria prima para as demais utilizações é produzida e fornecida.
O Cânhamo ou Hemp é a forma como se convencionou chamar o produto da espécie Cannabis Sativa Ruderalis. Esta variedade é a mais utilizada para o cultivo agrícola de grande extensão.
Conhecida por ser rica em fibras e conter CBD, além de baixíssimos níveis de THC, esta variedade é bastante resistente e de fácil cultivo, uma vez que, pode crescer rapidamente em diferentes solos e temperaturas, tornando-o um recurso flexível para os agricultores alavancarem.
Por exemplo, o cânhamo necessita de metade da área de terra que o algodão para produzir uma tonelada de têxteis acabados.
Assim sendo, o cenário da indústria agrícola está mudando rapidamente nos EUA, particularmente depois que o Congresso legalizou o cultivo, processamento e venda de cânhamo industrial, aprovando a Hemp Farming Act em 2018.
Esse desenvolvimento tem implicações importantes para o mercado de CBD derivado do cânhamo, que deve atingir US$ 22 bilhões até 2022, de acordo com a empresa de rastreamento de inovação e inteligência de mercado Brightfield Group.
O cânhamo pode ser tecido em materiais leves para roupas, têxteis duráveis para fins industriais e até cordas e cabos extremamente resistentes para ser utilizado em tração de materiais pesados. Ao contrário do algodão, o cânhamo mantém sua força quando molhado, e também possui propriedades antibacterianas.
Embora os produtos derivados do óleo CBD sejam atualmente o maior mercado para os cultivadores de cânhamo nos Estados Unidos (a Future Farm registrou uma receita de US$ 90 mil por acre em 2017), mais de 25.000 outros produtos podem ser fabricados com cânhamo, incluindo alimentos, tecidos, materiais de construção e biocombustível, como veremos adiante.
O cânhamo também é visto como uma colheita de rotação promissora devido à sua capacidade de remover certos poluentes do solo.
Além disso, o cânhamo pode contribuir para a conservação da água, uma vez que “se torna uma das culturas mais tolerantes à seca do planeta“, segundo a associação americana National Hemp Association.
Mais adiante aprofundaremos alguns setores que foram inicialmente citados neste tópico.
Cannabis no setor agropecuário
O cânhamo também está influenciando os produtores de gado nos EUA. Alguns estados já iniciaram programas para analisar a segurança e a praticidade desta opção como alimento para animais.
Em 2017, o anterior governador do estado do Colorado, John Hickenlooper, assinou um projeto de lei que cria um grupo de trabalho sob o Comissário de Agricultura para estudar a viabilidade do cânhamo como alimento animal.
Com a porta agora aberta para o cultivo de cânhamo em virtude da aprovação da Hemp Farming Act em 2018, o Farm Journal e o Drovers fizeram uma pesquisa entre agricultores e produtores de gado para avaliar seu interesse neste tipo de cultivo.
Em matéria publicada no início de 2019, restou constatado que 48% dos agricultores e pecuaristas estariam interessados em cultivar o cânhamo, enquanto 24% não sabem e 28% responderam que não.
Entre os pecuaristas, em relação ao uso de cannabis como alimento para animais, 48% disseram que concordam fortemente ou concordam em alimentar os seus animais com esta opção.
Assim como acontece com os humanos, os cientistas acreditam que o cânhamo utilizado para alimentação pode beneficiar a saúde e aumentar o desempenho do gado sem causar o indesejável efeito entorpecedor, pois conta com insignificante quantidade de THC.
O cânhamo seria administrado a animais por meio de farelo de sementes trituradas, pellets ou óleo como suplemento.
As sementes de cânhamo são ricas em ácidos graxos como Omega 3, Omega 6, Omega 9 e GLA. Também é importante fonte de proteínas que contêm todos os aminoácidos e são abundantes em fibras, ajudando o sistema digestivo de um animal.
Da mesma forma, é uma boa fonte de minerais, como o cobre, ferro, boro, zinco, manganês, nitrogênio e zinco.
Cannabis no setor alimentício
A indústria alimentícia viu os comestíveis de cannabis decolarem na última década.
Este setor se divide entre alimentos extraídos da semente do cânhamo, isto é, aqueles que possuem alto valor nutritivo, mas não contam com a presença de fitocanabinóides e os alimentos que contam com essa presença.
Neste texto detalhamos tudo que envolve esse ramo dos alimentos extraídos da semente de cânhamo. Estes se dividem na própria semente descascada, no óleo que pode ser extraído e na proteína derivada da sua farinha.
O interesse crescente neste tipo de alimento extraído da semente está acontecendo porque estes são saudáveis e funcionais, isto é, produzem efeitos metabólicos, fisiológicos e benéficos à saúde, quando consumidos usualmente e acompanhados por hábitos sadios.
Esta pesquisa publicada pelo Journal of Dietary Supplements chegou à conclusão que “a suplementação de cânhamo melhorou o colesterol HDL, tendendo a apoiar medidas psicométricas de percepção do sono, resposta ao estresse e percepção do prazer da vida e foi bem tolerada sem preocupações de segurança clinicamente relevantes”.
Porém, alimentos derivados de cannabis não se restringem aos que são produzidos a partir da semente de cânhamo, isto é, aqueles que não contém fitocanabinóides.
Nos EUA, os consumidores da Califórnia compraram US$ 180 milhões em alimentos e bebidas com infusão de cannabis em 2016, o que representou 10% das vendas totais deste ativo no estado.Esse percentual subiu para 18% em fevereiro de 2018, segundo o Green Market Report.
Os alimentos com infusão de cannabis são agora também uma grande tendência culinária. De acordo com uma pesquisa da The National Restaurant Association e da American Culinary Federation, 3 em cada 4 chefs de cozinha escolheram alimentos com infusão de CBD como uma forte tendência para 2019.
Recentemente a Netflix lançou uma série chamada “Receita da boa”, na qual chefs competem apresentando sofisticados pratos feitos com cannabis.
O mercado de comestíveis também está se expandindo para outros estados além da Califórnia.
As vendas de guloseimas com infusão de cannabis aumentaram 121% no estado de Washington, onde o uso recreativo é autorizado desde 2016.
Desde que o Colorado permitiu o seu uso recreativo, as vendas triplicaram de US$ 17 milhões no primeiro trimestre de 2014 para US$ 53 milhões no terceiro trimestre de 2016. As empresas vendem produtos como trufas, barras de chocolate, balas de hortelã, sucos, dentre outros
Nesta onda, outras empresas também estão surgindo, como a Mirth Provisions (comestíveis e bebidas com infusão de cannabis), Auntie Dolores (lanches com óleo de cannabis), Defonce Chocolatier (uma empresa de chocolates sofisticada) e Cheeba Chews (caramelo de chocolate), dentre outras.
Cannabis no setor têxtil
Com o número crescente de consumidores interessados em produtos ecologicamente corretos, grandes varejistas e marcas de nicho de moda estão apostando em tecidos produzidos com as fibras do cânhamo para aumentar seus resultados.
A EnviroTextiles, fabricante com sede no Colorado, está introduzindo novos têxteis à base de cânhamo que se parecem jeans ou lã.
Em um sinal de impulso crescente, a mundialmente conhecida marca de jeans Levi’s estreou recentemente uma coleção de cânhamo totalmente reciclável.
Assim, oferecerá jeans feitos com 30% de cânhamo e 70% de algodão, graças a uma tecnologia inovadora que eles desenvolveram que torna o cânhamo tão macio quanto o algodão.
Paul Dillinger, chefe de inovação global de produtos da empresa, explicou ao Business Insider :
“Nossa intenção é levar isso ao cerne da linha, misturá-lo à linha, fazer disso parte do portfólio da Levi´s.
Muitas vezes, existe a suposição de que comprar um produto fabricado de maneira sustentável envolverá um sacrifício, e que a escolha é entre algo eticamente feito ou algo fofo. Você não precisa se sacrificar para comprar de forma sustentável”.
Assim, com a expansão da legalização da cannabis, as marcas de moda poderão ocupar esse espaço para aumentar a aceitação convencional dos produtos a base de fibra de cânhamo
Celebridades e influenciadores têm a capacidade de promover uma visão menos estigmatizada da cannabis, usando e compartilhando produtos à base de cânhamo, tais como calças, bermuda e jaquetas, dentre outros.
A gigante de material esportivo ADIDAS foi pioneira ao lançar, ainda nos anos 1990, o primeiro tênis produzido com fibra de cânhamo. O sucesso foi imenso e o produto é comercializado até os dias de hoje.
Plástico
O plástico é um produto extremamente versátil e relativamente barato. O grande problema é fato de que a grande maioria dele não é biodegradável, representando atualmente a maior ameaça ao meio ambiente.
O cânhamo se apresenta como uma alternativa extremamente interessante, pois é um produto biodegradável. Cálculos apontam que remediar esse problema poderia apresentar uma oportunidade de US$ 80 bilhões a US$ 120 bilhões.
Logo, trata-se de uma alternativa mais ecológica ao plástico comum, afetando a fabricação de tudo, de garrafas a eletrodomésticos, brinquedos e muito mais. Os empresários desse setor podem ter a oportunidade de desenvolver bioplásticos biodegradáveis usando cânhamo.
A Best Practices Packaging, desenvolvedora de embalagens ecológicas no Alasca, está disposta a aumentar a produção em uma ampla gama de aplicações para plásticos à base de cânhamo. A empresa está trabalhando em parceria com a Penta5, um grupo de empresas com sede na Flórida que tem capacidade para embalar mais de um bilhão de unidades por ano.
Além disso, a gigante de brinquedos Lego se comprometeu a mudar para materiais mais sustentáveis que o plástico. Seu investimento de US $ 150 milhões para isso poderia ser potencialmente usado para explorar um plástico derivado do cânhamo.
Biocombustível e energia
O cânhamo se adapta a uma grande variedade de solos e requer insumos mínimos para o seu cultivo.
Já se sabe que o cânhamo produz aproximadamente quatro vezes mais biodiesel por acre do que a soja, que atualmente é a única forma cultivada em larga escala para essa utilização nos EUA, de acordo com o Modern Farmer.
Pesquisadores da UConn descobriram que o cânhamo possui propriedades que o tornam potencialmente atraente como matéria-prima para a produção de combustível diesel produzido a partir de fontes renováveis de energia (plantas).
Neste estudo publicado na ScienceDirect, com o título “A viabilidade de converter o óleo de Cannabis sativa L. em biodiesel”, restou demonstrado que o rendimento do produto é de 97%. Vejamos:
“A cannabis sativa Linn, conhecida como cânhamo industrial, foi utilizada para a produção de biodiesel neste estudo. O óleo da semente de cânhamo foi convertido em biodiesel por transesterificação catalisada por base. A conversão é superior a 99,5% enquanto o rendimento do produto é de 97%. Vários testes ASTM para a qualidade do biodiesel foram implementados no produto biodiesel, incluindo número de ácido, teor de enxofre, ponto de inflamação, viscosidade cinemática e teor de glicerina livre e total. Além disso, o biodiesel tem um baixo ponto de nuvem (-5° C) e viscosidade cinemática (3,48 mm2/s). Isso pode ser atribuído ao alto teor de ácido graxo poliinsaturado do óleo de semente de cânhamo e à sua proporção única de 3: 1 de ácido linoleico para α-linolênico”.
Papel
A produção global de papel e papelão ficou em aproximadamente 420 milhões de toneladas em 2017, segundo artigo publicado pelo Statista.
Mais da metade dessa produção foi atribuída ao papel para embalagem, enquanto quase um terço foi atribuído ao papel gráfico.
Estima-se uma média de 17 árvores necessárias para produzir cada tonelada de papel.
No entanto, um hectare de cânhamo industrial produz cerca de 4 vezes mais papel que um hectare de árvores, de acordo com um relatório do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA).
Empresas como a TreeFreeHemp do Colorado e a Green Field Paper Company da Califórnia vendem papel feito de cânhamo, usando o maior número possível de materiais de origem local.
Startups como essas estão criando papel para diversas finalidades, incluindo cartões de visita, panfletos e cartões postais.
Logo, o cânhamo como fonte de papel, assim como na produção têxtil, de plástico biodegradável e de biodiesel, tem função de destaque nos esforços de sustentabilidade e preservação do meio ambiente voltados para a redução de desmatamento e produção de poluentes no planeta.
Cannabis na construção
Novas tecnologias de construção estão se desenvolvendo e o cânhamo não foi deixado de fora: atualmente é possível morar em uma casa construída quase inteiramente com este material.
Estes materiais vêm se mostrando mais eficientes do que os tradicionais.
Primeiramente, podemos citar o cimento de cânhamo que é um material leve, produzido com fibras industriais (fibras lenhosas do núcleo da planta), cal e água.
Variando a proporção destes materiais são obtidas diferentes misturas que podem ser utilizadas para paredes, rebocos, lintéis, pisos e lajes. Pode ser preparado no local e é manuseado como concreto tradicional.
Assim, as vantagens do concreto de cânhamo sobre o cimento tradicional são enormes: as construções feitas com este material são capazes de suportar temperaturas de até 1000°C, são leves e isolantes térmicos.
O custo de produção também é muito menor que o do cimento tradicional, bem como seu impacto no meio ambiente.
Outra opção são os blocos ou tijolos de cânhamo que têm desempenho térmico, acústico e repelente à água superior aos tijolos de cerâmica ou concreto, além de também serem muito mais leves.
Mas não é só isso. O cânhamo pode fazer a funções de chapa de OSB, isolamento e drywall.
Estes materiais de construção à base de cânhamo também são resistentes a mofo e carbono-negativo.
Logo, as aplicações são amplamente diversificadas, isto é, da fundação ao teto, toda a casa pode ser construída com esse material, incluindo até mesmo as construções com estrutura alta.
Nos últimos anos, a impressão 3D revolucionou a maneira como a produção de um objeto é concebida e esta tecnologia chegou até o ramo da construção. Dessa forma, você pode “imprimir” uma casa quase automaticamente.
Pois é justamente isso que a empresa australiana Mirreco está aplicando na produção de casas pré-fabricadas. Assim, eles utilizam painéis de feitos de cânhamo que permitem construir uma casa em semanas.
Cannabis em bebidas não alcóolicas
O mercado de bebidas não alcoólicas com infusão de cannabis está se expandindo rapidamente, apresentando como produtos uma variedade de sucos, águas, cafés, chás e kombucha apresentando em suas fórmulas o CBD e ou THC.
O CBD é conhecido por reduzir a ansiedade e a inflamação sem deixar os consumidores entorpecidos. Assim, as bebidas CBD em particular podem ser comercializadas como bebidas saudáveis, aproveitando o intenso interesse atual em produtos de bem-estar.
Estima-se que o mercado de bebidas atinja US$ 600 milhões nos EUA até 2022, de acordo com a Canaccord Genuity.
Em 2019, a New Age Beverages anunciou que pretende lançar uma linha de bebidas com infusão de CBD sob a marca Marley Mellow Mood.
A Coca-Cola também está considerando um acordo com a produtora canadense Aurora Cannabis para desenvolver bebidas à base de CBD.
Conclusão
Concluímos que a cannabis legal está cada vez mais se consolidando para transformar as relações econômicas e sociais.
Isto vem ocorrendo porque este ativo se mostra com enorme potencial econômico, além de ser sustentável e ecológico.
Este texto demonstrou sem a pretensão de esgotar o assunto como ela vem causando efeitos em diversos setores, quais sejam:
- medicinal
- farmacêutico
- cosmético/bem estar
- agrícola
- agropecuário
- alimentício
- têxtil
- plástico
- biocombustível/energia
- papel
- construção
- bebidas não alcoólicas