Dia Mundial de Conscientização do Autismo e como a Cannabis pode ajudar no tratamento
O Dia Mundial de Conscientização do Autismo acontece anualmente no dia 2 de abril e foi criado pela Organização das Nações Unidas para conscientizar a sociedade a respeito da luta pelos direitos daqueles que possuem diagnóstico do Transtorno do Espectro Autista (TEA).
O Transtorno do Espectro do Autismo é uma forma de neurodesenvolvimento atípico, caracterizado pela manifestação de dificuldades de comunicação e interação social e pela presença de comportamentos repetitivos ou restritos.
Além destas características, em alguns casos pode também ocorrer convulsões.
As pessoas com TEA têm necessidades especiais de saúde que demandam uma variedade de suportes integrados que incluem serviços de cuidados e reabilitação e a colaboração de diversos campos, como o educacional, o profissional e o social.
Uma vez que um caso de TEA seja identificado, é muito importante que a criança e sua família recebam informações e serviços apropriados, tais como, encaminhamento para médicos especializados e demais assistências de acordo com as necessidades específicas de cada indivíduo.
Assim sendo, intervenções como a terapia comportamental e programas de treinamento para pais e cuidadores ajudam a reduzir as dificuldades de comunicação e o comportamento social, impactando de maneira positiva na qualidade de vida e bem-estar da pessoa.
O Dia Mundial de Conscientização é tão importante porque as pessoas com TEA muitas vezes sofrem estigmatização e discriminação, em particular a privação indevida da saúde, educação e oportunidades para participar ativamente de suas comunidades.
Como a Cannabis pode ajudar no tratamento
Diversos estudos têm sido realizados para comprovar os benefícios da Cannabis no tratamento de pessoas com TEA, especialmente para controle da epilepsia, ansiedade, distúrbios do sono, dentre outras aplicações.
Neste artigo denominado “Experiência da vida real do tratamento médico com cannabis no autismo: análise de segurança e eficácia”, publicado pela conceituada revista científica Nature e contando com a participação do renomado cientista Raphael Mechoulam, constatou-se que:
“Houve um aumento dramático no número de crianças diagnosticadas com transtornos do espectro do autismo (TEA) em todo o mundo. Recentemente, surgiram evidências anedóticas de possíveis efeitos terapêuticos dos produtos de cannabis. O objetivo deste estudo é caracterizar a epidemiologia dos pacientes com TEA recebendo tratamento com cannabis medicinal e descrever sua segurança e eficácia. Analisamos os dados coletados prospectivamente como parte do programa de tratamento de 188 pacientes com TEA tratados com cannabis medicinal entre 2015 e 2017. O tratamento na maioria dos pacientes foi baseado em óleo de cannabis contendo 30% de CBD e 1,5% de THC. Inventário de sintomas, avaliação global do paciente e efeitos colaterais em 6 meses foram os desfechos primários de interesse e foram avaliados por questionários estruturados. Após seis meses de tratamento 82,4% dos pacientes (155) estavam em tratamento ativo e 60,0% (93) foram avaliados; 28 pacientes (30,1%) relataram melhora significativa, 50 (53,7%) moderada, 6 (6,4%) leve e 8 (8,6%) sem alteração do quadro. Vinte e três pacientes (25,2%) experimentaram pelo menos um efeito colateral; o mais comum foi a inquietação (6,6%). Cannabis em pacientes com TEA parece ser uma opção bem tolerada, segura e eficaz para aliviar os sintomas associados com TEA”.
Neste outro artigo denominado “De uma medicina alternativa a um novo tratamento para epilepsias refratárias: o canabidiol segue o mesmo caminho para tratar doenças neuropsiquiátricas?”, publicada na Front Psychiaty e contando com a participação do renomado cientista brasileiro Elisaldo A. Carlini, constatou-se que:
“Os primeiros estudos realizados pelo grupo de Carlini no Brasil sugeriram que o canabidiol (CBD), um fitocanabinóide não psicotrópico presente na Cannabis sativa, tem propriedades anticonvulsivantes em modelos animais e reduziu a frequência de convulsões em estudos limitados em humanos. Nos últimos anos, o uso potencial do extrato de cannabis na epilepsia refratária, incluindo epilepsias infantis como a síndrome de Dravet e a síndrome de Lennox-Gastaut, abriu uma nova era no tratamento de pacientes epilépticos. Assim, um número considerável de estudos pré-clínicos e clínicos têm fornecido fortes evidências de que os fitocanabinóides possuem propriedades anticonvulsivantes, além de serem promissores no tratamento de diversos transtornos neuropsiquiátricos, como depressão, ansiedade, transtorno de estresse pós-traumático (TEPT), dependência, transtornos neurodegenerativos e transtorno do espectro do autismo (TEA). Dados os avanços dos canabinóides, especialmente do CBD, no tratamento da epilepsia, seria a mesma expectativa em relação ao tratamento de outros transtornos neuropsiquiátricos? A presente revisão destaca algumas contribuições de pesquisadores brasileiros e outros estudos relatados em outros lugares sobre a história, dados pré-clínicos e clínicos subjacentes ao uso de canabinóides para o já difundido tratamento de epilepsias refratárias e a possibilidade de uso no tratamento de alguns transtornos neuropsiquiátricos”.
Nesta pesquisa denominada “Efeitos do extrato de Cannabis sativa enriquecido com CBD nos sintomas de transtorno do espectro do autismo: um estudo observacional de 18 participantes submetidos ao uso compassivo”, publicada pela Frontiers in Neuroscience.e contando com a participação de cientistas brasileiros, constatou-se que:
“Os Transtornos do Espectro do Autismo compreendem condições que podem afetar o desenvolvimento cognitivo, habilidades motoras, interação social, comunicação e comportamento. Esse conjunto de déficits funcionais frequentemente resulta em falta de independência para os indivíduos diagnosticados e sofrimento severo para pacientes, familiares e cuidadores. Existem inúmeras evidências que indicam a eficácia do canabidiol puro (CBD) e da Cannabis sativa enriquecida com CBDextrato (CE) para o tratamento de sintomas autistas em pacientes com epilepsia refratária. Há também dados crescentes de suporte para a hipótese de que o autismo não epiléptico compartilha mecanismos etiológicos subjacentes com a epilepsia. Aqui, relatamos um estudo observacional com uma coorte de 18 pacientes autistas em tratamento com o uso compassivo de CE enriquecido com CBD padronizado (com uma proporção de CBD para THC de 75/1). Entre os 15 pacientes que aderiram ao tratamento (10 não epilépticos e cinco epilépticos), apenas um paciente apresentou ausência de melhora dos sintomas autistas. Devido a efeitos adversos, três pacientes interromperam o uso de CE antes de 1 mês. Após 6–9 meses de tratamento, a maioria dos pacientes, incluindo epilépticos e não epilépticos, mostraram algum nível de melhora em mais de uma das oito categorias de sintomas avaliadas: Transtorno de Déficit de Atenção / Hiperatividade; Transtornos Comportamentais; Déficits motores; Déficits de Autonomia; Déficits de Comunicação e Interação Social; Déficits cognitivos; Distúrbios do Sono e Convulsões, com efeitos adversos muito raros e leves. As melhorias mais fortes foram relatadas para convulsões, transtorno de déficit de atenção / hiperatividade, transtornos do sono e déficits de comunicação e interação social. Isso foi especialmente verdadeiro para os 10 pacientes não epilépticos, nove dos quais apresentaram melhora igual ou superior a 30% em pelo menos uma das oito categorias, seis apresentaram melhora de 30% ou mais em pelo menos duas categorias e quatro apresentaram melhora igual a ou acima de 30% em pelo menos quatro categorias de sintomas. Dez dos 15 pacientes usavam outros medicamentos, e nove deles conseguiram manter as melhorias mesmo após a redução ou suspensão de outros medicamentos. Os resultados relatados aqui são muito promissores e indicam que o CE enriquecido com CBD pode melhorar vários sintomas de TEA, mesmo em pacientes não epilépticos, com aumento substancial na qualidade de vida para pacientes com TEA e cuidadores”.
Por sua vez, o site G1 publicou uma reportagem em que a mãe de duas crianças com TEA deu seu testemunho sobre a evolução dos seus filhos após o início do tratamento com óleo rico em CBD. Vejamos alguns trechos.
“Eu posso dizer que os meus meninos são uma criança antes e [outra] depois da cannabis”.
“A cannabis não é cura para o autismo, ninguém está falando em cura, mas ela ajudou muito”.
“Depois do óleo melhorou muito a qualidade do sono, o humor melhorou muito. Eu acredito, a percepção que a gente tem é que, com as medicações que eles tomavam, as crianças ficavam muito dopadas”.
“A gente percebeu uma criança mais feliz, que dorme bem, começaram a expressar mais sentimentos. Por exemplo, chorar quando precisa chorar, porque o choro é importante, tem que chorar mediante a uma frustração. As crianças riem mais, interagem. A questão de procurar o outro, então contato visual melhorou muito.”
Assim sendo, a Cannabis vem se mostrando um importante aliado para auxiliar no tratamento do Transtorno do Espectro Autista. Cientistas e médicos brasileiros estão contribuindo para o desenvolvimento de estudos científicos e comprovações empíricas nesse sentido.
Neste Dia Mundial de Conscientização do Autismo, a equipe ReMederi se solidariza com todos os portadores e seus familiares e informa que pode ajudar com todas as providências necessárias que envolvem o acesso ao tratamento à base de Cannabis.
Yuri Barboza
27 de abril de 2021Teste2